É preciso saber o número. Quem a pela rua Lopes Quintas dificilmente imagina o que se esconde atrás da fachada discreta do número 201. Ao cruzar o portão da Casa 201, no Jardim Botânico, o Rio de Janeiro parece ficar para trás. Com atmosfera de serra, trilha sonora de clássicos ses na medida certa e iluminação intimista, o restaurante recém-premiado com uma estrela Michelin oferece uma experiência que vai além da culinária – e que agora é oficialmente reconhecida.
O salão é pequeno – comporta até 30 pessoas – e o funcionamento segue o modelo de casa fechada, apenas com reservas. O menu fixo de oito etapas, renovado a cada três meses, entrega uma imersão na cozinha autoral e artesanal do chef João Paulo Frankenfeld, com técnica sa, ingredientes nacionais e um nível de cuidado que impressiona até os paladares mais exigentes.
Logo na chegada, pães de fermentação natural, charcutaria própria, manteiga aromatizada e picles preparam o terreno para o que está por vir. Mas é apenas o início. O percurso segue com uma série de pratos que combinam precisão técnica, afeto e ousadia – como o amuse-bouche de caldo de mariscos com palmito e cebola caramelizada coberto por massa folhada crocante ou o peixe servido com consommé de missô caseiro, óleo de pimenta dedo de moça e crocante de baroa.
A produção artesanal da Casa 201 não é recurso de marketing: é prática cotidiana. Quase tudo é feito ali, da mostarda ao missô, que leva seis meses para alcançar o sabor ideal. O resultado aparece em pratos como o tortelli de galinha caipira com ballotine de terrine de campagne e o molho de mostarda da casa. Já a costela Black Angus, cozida à perfeição e finalizada com molho de Marsala, mostra que leveza e intensidade podem dividir o mesmo prato.
A sequência salgada faz uma pausa com uma tábua de queijos artesanais produzidos ali mesmo. Em seguida, começa o desfecho doce – e talvez o momento mais surpreendente da noite. A pré-sobremesa, feita com gelato de cerveja de trigo e creme de Calvados, antecipa o grand finale: o entremet de banana em várias texturas com caramelo e missô da casa e gelato de cumaru. Um prato de tamanha beleza que quase pede para ser emoldurado.
O serviço acompanha o nível da cozinha: atencioso, técnico e próximo, sem afetações. O próprio João Paulo faz questão de visitar cada mesa ao fim do jantar – gesto que revela tanto controle sobre a execução quanto respeito pelo cliente. A formação do chef pelo Instituto Paul Bocuse e a agem por casas estreladas como o Guy Savoy e o Gordon Ramsay au Trianon explicam o domínio das técnicas. Mas é o toque pessoal, afetivo e generoso que faz da Casa 201 algo raro no cenário carioca.
Em pouco mais de um ano de funcionamento, a Casa 201 já tinha conquistado os que buscavam uma experiência gastronômica única na cidade. A estrela Michelin, anunciada nesta segunda-feira, dia 12, apenas formaliza o que os comensais já sabiam: ali, cozinha é arte, é casa, é encontro.
Serviço:
Casa 201
Rua Lopes Quintas, 201 – Jardim Botânico
Telefone: (21) 96707-0201
Funcionamento: terça a sábado, às 20h (somente com reserva)
Menu degustação: R$ 590
Harmonização opcional: R$ 380
Taxa de rolha: R$ 130 (isenta se consumir outra bebida da casa)
www.casa201.com.br
Instagram: @201.casa | @jpfrankenfeld