Mesmo diante de cortes orçamentários, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) segue firme entre as principais instituições de ensino superior do país. A mais recente edição do Center for World University Rankings (CWUR) colocou a universidade no 2º lugar entre as 53 brasileiras listadas entre as 2 mil melhores do mundo — uma posição que reflete o impacto das pesquisas e estruturas de ponta que a universidade abriga, principalmente na Coppe/UFRJ.
No Fundão, um dos maiores destaques é o Tanque Oceânico do LabOceano, uma estrutura com 40 metros de comprimento, 30 de largura e 15 de profundidade, capaz de simular fenômenos que ocorrem em lâminas d’água superiores a 2 mil metros. São 22 milhões de litros de água e um gerador de ondas que reproduzem condições reais do ambiente marinho, permitindo testes de plataformas de petróleo, usinas eólicas offshore e sistemas navais.
“Aqui a gente busca reproduzir as condições reais do mar e, dessa forma, testar sistemas oceânicos”, explica o professor Paulo de Tarso Themistocles Esperança, coordenador executivo do LabOceano. Inaugurado em 2023, o espaço é considerado estratégico para o país, especialmente por apoiar a indústria do petróleo, já que mais de 90% das reservas brasileiras estão no mar.
Além de apoiar projetos científicos e industriais, o tanque já foi utilizado até na recriação da Baía de Guanabara para cenas da série sobre o naufrágio do Bateau Mouche IV, do Globoplay.
Outro núcleo de excelência da UFRJ é o Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce), conhecido por aplicar mecânica computacional e visualização científica a fenômenos atmosféricos e oceanográficos. Em um espaço apelidado de “caverna”, um domo com telão permite projetar imagens em escala global, ajudando no entendimento de fenômenos como El Niño, La Niña e mudanças climáticas.
“Esse tipo de equipamento contribui tanto para entender os impactos das mudanças climáticas quanto para pensar a transição energética para fontes renováveis”, diz Luiz Paulo Assad, professor da Coppe.
Durante as Olimpíadas do Rio, o Lamce também foi fundamental ao prever correntes marítimas e ventos nas raias das regatas, orientando o cronograma das competições. O laboratório também realiza ações educativas com alunos da rede pública, utilizando projeções em balões e recursos visuais interativos.
Na área computacional, a Coppe é pioneira no uso de inteligência artificial (IA) e transformação digital (TD). Em 2020, criou o Hub.Rio, centro de excelência em IA liderado em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). A estrutura reúne os supercomputadores Lobo Carneiro (Coppe) e Santos Dumont (LNCC), os mais potentes do Brasil.
A IA também está presente em pesquisas na área da Saúde. A Coppe colabora com o centro europeu EuroFlow em diagnósticos de leucemias e linfomas, e desenvolveu com a Fiocruz um sistema para detectar epidemias virais. Já em 2020, criou um teste rápido e barato de covid-19 com base na proteína spike, em parceria com o Instituto de Biofísica da UFRJ.
Outro setor estratégico é o de energia. A Coppe trabalha em projetos com a Petrobras e estuda soluções como a produção de hidrogênio verde offshore, a partir de fontes eólicas. Estudos mostram que a costa brasileira tem alto potencial para gerar hidrogênio renovável, abrindo uma nova fronteira para o país no cenário energético internacional.
A universidade também investe em nanotecnologia. Desde 2013, com a criação do Programa de Engenharia da Nanotecnologia (PENt), a UFRJ tem avançado em nanobiotecnologia, com aplicações que vão de diagnósticos médicos mais precisos até a regeneração de tecidos e engenharia de órgãos artificiais.
Mesmo enfrentando limitações financeiras, a UFRJ prova que a ciência pode — e deve — seguir movendo fronteiras. Dos laboratórios ao oceano, ando pelos supercomputadores e pela saúde pública, a universidade continua sendo um polo de inovação científica com impacto nacional e global.