Num momento em que o futebol volta a ser palco de lamentáveis episódios de discriminação, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) resolveu agir com firmeza. Lançou uma campanha inédita, “Estamos Vigilantes”, para enfrentar de frente o racismo nos estádios durante os jogos das Copas Libertadores e Sul-Americana realizados na cidade. É uma iniciativa corajosa, necessária — e que pode servir de modelo para todo o país.
A campanha “Estamos Vigilantes”, apresentada oficialmente pelo MPRJ nesta quarta-feira (14/05), marca uma mudança de postura institucional no combate à discriminação racial e à xenofobia nos estádios. Com a presença ativa de promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST/MPRJ) nas arquibancadas e no Juizado do Torcedor, a ação tem por objetivo identificar, reprimir e punir, de forma imediata, os autores de atos racistas durante as partidas.
Esses promotores, além de observarem in loco o comportamento das torcidas, também contarão com as imagens captadas pelo circuito interno de câmeras dos estádios. Havendo flagrante de atitude discriminatória, os autores serão conduzidos por policiais ou seguranças ao Juizado do Torcedor. Se confirmada a infração, haverá prisão em flagrante e início de processo criminal.
A ação se soma aos esforços internacionais que visam a tornar o futebol um ambiente mais inclusivo e respeitoso. Recentemente, a FIFA anunciou um endurecimento nas punições a atos de racismo em seus campeonatos, com multas pesadas e possibilidade de derrota por WO. O momento, portanto, é mais do que oportuno.
Casos recentes justificam a urgência da medida. Em março, o jogador Luighi, do Sub-20 do Palmeiras, foi alvo de ofensas racistas em partida contra o Cerro Porteño, no Paraguai. No Rio de Janeiro, dois torcedores do Botafogo foram denunciados pelo MPRJ após gestos racistas feitos durante um jogo da Libertadores em novembro de 2024.
A campanha também chama a atenção para a responsabilidade de todos os presentes nos estádios. Denunciar é dever de cada cidadão. O MPRJ orienta que qualquer pessoa que presencie um ato de discriminação acione de imediato os policiais, a equipe de segurança ou o promotor de Justiça de plantão. Também é possível enviar imagens e informações para a Ouvidoria do MPRJ, pelo número 127 ou por meio de formulário específico no site abaixo:
https://www.mprj.mp.br/comunicacao/ouvidoria/formulario
A iniciativa conta ainda com o apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) e da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia do MPRJ (DEDIT/CI2), que avaliou e sugeriu melhorias para os sistemas de câmeras dos estádios, além de apoiar a captação de áudios e vídeos que ajudem na identificação de gestos, cânticos ou ofensas racistas.
A campanha “Estamos Vigilantes” reúne jogadores dos principais clubes do Rio, jornalistas, profissionais de segurança, torcedores e promotores em um único propósito: transformar o ambiente do futebol em um espaço onde a intolerância não tenha vez — nem voz.
Assista ao vídeo oficial da campanha no link abaixo:
Não basta mais dizer que é contra o racismo. É preciso agir. E o Ministério Público do Rio de Janeiro acaba de mostrar que está disposto a fazer isso com coragem, presença e tecnologia. A bola está em campo — e agora, a arquibancada também será vigiada. Afinal, num estádio, todo mundo tem o direito de torcer — mas ninguém tem o direito de ofender.