Araras-canindé voltam à floresta da Tijuca após 200 anos extintas no Rio

Quatro araras-canindé voltam ao Parque Nacional da Tijuca, no Rio, após mais de 200 anos da extinção local. Soltura definitiva deve ocorrer em até seis meses.

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Foto: Flávia Zagury/Refauna

Pela primeira vez desde 1818, as araras-canindé estão de volta aos céus do Rio de Janeiro. Quatro aves da espécie (Ara ararauna) chegaram na última sexta-feira (6 de junho) ao Parque Nacional da Tijuca, mais de 200 anos depois de serem consideradas extintas na cidade.

As três fêmeas e um macho vieram do Parque Três Pescadores, em Aparecida (SP), e vão ar por um período de aclimatação em um viveiro especialmente construído na floresta da Tijuca. A previsão é que a soltura definitiva ocorra em até seis meses.

O retorno das araras é liderado pelo projeto Refauna, que trabalha na restauração ecológica da Mata Atlântica, com apoio do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável pela gestão do parque.

“Existem registros pontuais de araras que fugiram de cativeiro, mas não são populações livres e autossustentáveis. Esses quatro animais serão os primeiros, desde o século 19, a viverem livres no Rio com a expectativa de formar uma população viável”, explica Marcelo Rheingantz, diretor do Refauna e biólogo da UFRJ.

As araras-canindé transferidas foram todas resgatadas de situações de tráfico ou posse ilegal. Antes de chegarem ao Rio, aram por uma série de exames e testes para garantir que estavam livres de doenças.

O macho escolhido recebeu o nome de Selton, em homenagem ao ator Selton Mello, protagonista do filme “Meu Nome Não É Johnny”, que inspirou os biólogos na escolha. Uma das fêmeas, que demonstrou maior afinidade com Selton, foi batizada de Fernanda, referência à atriz Fernanda Torres, parceira de cena de Mello no filme “Ainda Estou Aqui”. As outras duas são chamadas de Fátima e Sueli, em homenagem às personagens do seriado “Tapas & Beijos”, vivido por Fernanda Torres e Andrea Beltrão.

Além de embelezar o céu carioca, as araras têm um papel fundamental na manutenção da floresta. “Elas são grandes dispersoras de sementes e ajudam diretamente na regeneração da Mata Atlântica”, destaca Rheingantz.

Nas primeiras semanas, as aves estão sendo alimentadas com frutas, ração e sementes sob supervisão dos biólogos. Aos poucos, elas serão estimuladas a buscar alimentos nativos, como parte do processo de readaptação ao ambiente natural. Ninhos artificiais também foram instalados no viveiro.

Para garantir o sucesso da reinserção, as araras receberão radiotransmissores e anilhas coloridas nas patas, permitindo que a equipe de pesquisadores acompanhe seus deslocamentos após a soltura.

A população que vive no entorno do parque será orientada a colaborar com o projeto, evitando interações diretas com as aves e denunciando qualquer situação de risco. “Vamos criar um programa de sensibilização com escolas e comunidades, estimulando as pessoas a enviar fotos e informações das araras. Isso ajuda no monitoramento e fortalece a participação da sociedade na conservação”, afirma Rheingantz.

A caça e o tráfico foram as principais causas da extinção das araras no Rio, ainda no século 19. “Essas aves são muito inteligentes, sociáveis e se adaptam bem ao cativeiro, o que as tornou alvo constante de captura ao longo da história”, completa.

O gerente regional do ICMBio, Breno Herrera, vê o retorno das araras como um marco ambiental. “No século 19, essa floresta foi devastada para dar lugar a cafezais. Hoje, no século 21, estamos não só restaurando a vegetação, mas também trazendo de volta a fauna que um dia fez parte desse ecossistema. Esperamos que, em poucos anos, essas araras estejam se reproduzindo e voando livremente pelo Rio”, comemora.

O plano agora é expandir o grupo. A equipe já avalia outros sete animais que arão por exames de saúde, com a expectativa de reforçar a população da espécie na floresta da Tijuca nos próximos anos.

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