Após anos de promessas, disputas e idas e vindas entre governos, as tradicionais Cobal do Humaitá e Cobal do Leblon, localizadas na Zona Sul do Rio, finalmente começaram a ar por obras de revitalização. As intervenções são conduzidas pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e prometem dar novo fôlego aos hortomercados que ocupam papel afetivo, econômico e social no cotidiano dos cariocas.
No Humaitá, os trabalhos já estão visíveis com a pintura das estruturas e reparos no telhado do galpão, que ocupa cerca de 10 mil metros quadrados. A unidade abriga 97 boxes, 84 lojas, sete salas comerciais e três quiosques. O espaço é conhecido pelo movimento intenso nos fins de semana, quando moradores e turistas circulam em busca de frutas frescas, carnes, cafés, restaurantes e quitandas tradicionais.
A obra no local vai muito além da aparência. Está prevista a reforma completa dos banheiros, com adoção de sanitários íveis para pessoas com deficiência, além da recuperação dos pisos internos, modernização do estacionamento, troca de gradis e melhorias no sistema de descarte de lixo. A parte elétrica, hidráulica, pluvial, sanitária e de segurança também será revisada e atualizada.
Já na Cobal do Leblon, os serviços tiveram início oficialmente nesta segunda-feira, dia 26 de maio, após liberação das licenças pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento. Menor em área que a do Humaitá, o espaço tem perfil semelhante: reúne pequenos comerciantes, lojas especializadas, bares e mercados voltados ao público gourmet, e mantém uma base fiel de frequentadores.
A execução do projeto só se tornou possível após a de um termo aditivo ao contrato original, destravando os ajustes solicitados pelo IRPH. As intervenções em ambas as unidades contam com investimento de R$ 4,25 milhões, fruto de uma emenda parlamentar do deputado federal Hugo Leal.
As obras chegam após uma longa “novela” política e istrativa. Em 2019, o então prefeito Marcelo Crivella levou a Brasília um projeto de revitalização das Cobals. No ano seguinte, o governador Cláudio Castro chegou a anunciar a intenção de estadualizar a gestão das unidades em 30 dias, o que não se concretizou. Em dezembro de 2020, a municipalização foi confirmada pelo prefeito Eduardo Paes. No entanto, em agosto de 2021, o governo federal incluiu as duas Cobals no plano de privatizações do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), sob gestão do então ministro Paulo Guedes.
Nesse meio tempo, diversas propostas surgiram. Uma delas, apresentada pela Fecomércio em 2019, sugeria transformar a Cobal do Leblon em um centro gastronômico nos moldes do Mercado da Ribeira, em Lisboa — com foco na valorização turística e culinária do espaço.
Atualmente, a istração das unidades ainda é responsabilidade da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), ligada ao Ministério da Agricultura. Segundo o órgão, há um grupo de trabalho atuando em parceria com a Prefeitura do Rio para viabilizar um novo modelo de concessão pública dos imóveis, em moldes que garantam a preservação das funções originais das Cobals e ampliem a oferta de serviços de qualidade.
Com as obras em andamento, moradores da Zona Sul voltam a nutrir esperança de que os espaços, há muito tempo negligenciados, possam recuperar seu protagonismo urbano e cultural. A revitalização busca, além de restaurar a infraestrutura, reafirmar o papel das Cobals como pontos de encontro, convivência e identidade carioca.