Uma pesquisa inédita do Observatório da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado do Rio de Janeiro (Universidade Veiga de Almeida) mostra um cenário preocupante na Região Metropolitana do Rio: 1,4 milhão de litros por dia (média diária do ano de 2022) de chorume – líquido contaminante com forte carga inorgânica, resultante do processo de degradação da matéria orgânica dos lixões ou aterros sanitários – não recebem o tratamento adequado para seus contaminantes e poluentes. A quantidade enche uma piscina olímpica a cada dois dias. A pesquisa vem sendo desenvolvida pelo professor Carlos Eduardo Canejo, que investiga a dinâmica de geração, transporte, destinação e tratamento do chorume (lixiviado), identificando padrões operacionais e potenciais gargalos estruturais no Estado.
O chorume é um líquido tóxico, perigoso e poluente, sua composição heterogênea inclui materiais recalcitrantes, biodegradáveis, não biodegradáveis, poluentes orgânicos persistentes (POP), compostos halogenados, sais, poluentes emergentes (PFAS), nitrogênio amoniacal, nitratos, nitritos, hormônios, fármacos, microplásticos e metais, eventualmente metais pesados, entre outras substâncias perigosas e não perigosas, exigindo cuidado redobrado para o efetivo e responsável tratamento.
“A situação do chorume da Região Metropolitana do Rio é bastante grave e preocupante, e urgem medidas para que o poluente seja tratado de forma adequada”, diz Canejo. “Em termos de volume de chorume transportado para tratamento externo, a ETE Alegria, operada pela Concessionária Águas do Rio lidera como principal unidade receptora licenciada pelo Inea no período, com o recebimento de aproximadamente 580 mil litros por dia). A ETE Deodoro, da Zona Oeste Mais Saneamento (42 mil litros por dia em média) e a ETE da empresa Attend Ambiental S.A., no Estado de São Paulo, situada ao lado da ETE Barueri (Sabesp) que descarrega no rio Tietê (41 mil litros por dia em média) também se destacam como segundo e terceiro maiores receptores no período de 2019 a 2023″.
“Acontece que nenhuma das rotas de tratamento das estações receptoras possui tecnologia com capacidade de remover, de forma eficaz e segura, a alta carga de nutrientes, poluentes e demais contaminantes do chorume”, sublinha o pesquisador.
Empresa de Paulínia (SP) é a líder em transporte de chorume
Os dados extraídos do Sistema de Manifesto de Resíduos (MTR) do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) referente aos anos de 2019 a 2023 foi revelado o cadastro de 34 geradores de chorume, 43 transportadores e 35 receptores (unidades de tratamento de chorume). Vale destacar que, dentre os receptores, foram constatadas diversas tecnologias, sobretudo tratamento biológico, entretanto, o estudo já evidencia a significativa dependência de tratamento combinado de chorume com efluentes sanitários em Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs).
No âmbito da logística de transportes, a empresa Transportes Cavalinho Ltda. com sede em Paulínia (SP) se destacou como a principal transportadora de chorume no estado durante o período avaliado, com cerca de 1.275.913 toneladas movimentadas (666 m3/dia em média), prestando serviço, especialmente à empresa Ciclus Ambiental do Brasil S.A.
Em seguida, aparecem a Esgo Jet ambiental EPP (40.740 toneladas – 21 m3/dia em média) e a Transcelestial Transportes Ltda. (20 m3/dia em média) atuando com diversos geradores.
Carlos Canejo acrescenta que, apesar de haver abrandamento de contaminantes orgânicos, o tratamento combinado com esgoto está longo de ser a forma mais adequada de lidar com a questão, em especial, em função da diluição:
“A alta variação da vazão e a complexidade química e biológica distinguem o chorume do esgoto urbano e de outras águas residuais, tornando essencial a adoção de abordagens de tratamento específicas (as vezes até customizadas) e tecnologias avançadas. Em função da sua complexidade, em qualquer hipótese a diluição deve imperar como técnica de tratamento. Só assim vamos assegurar a proteção ambiental dos recursos hídricos e da saúde pública”.
Os resultados deste estudo serão consolidados ao longo de 2025 com a análise das tecnologias in-situ (no próprio aterro) atualmente em uso no Estado do Rio de Janeiro, podendo fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas, para o aprimoramento de diretrizes técnicas e a proposição de alternativas responsáveis, seguras e sustentáveis para o manejo do chorume no Estado.
Deve ser lágrimas de PTistas ao constatar que o ladrão é ladrão.
Estamos perdidos nesse planeta, no qual empresas querem ter seus altos lucros sem se importarem pela qualidade de vida do povo e nem com a vida do pleneta que já dá sinal que pode nos causar surpresas em breve.
Boa tarde!
Na baixada fluminense no Rio de Janeiro, ainda que privatizam o saneamento a Baía de Guanabara ainda recebe 98% de todo esgoto!