Bairro tradicional e com localização estratégica, a Glória tem visto uma onda de valorização que tem chamado atenção até mesmo de investidores internacionais. A região, conhecida por ser uma porta de entrada mais ível para quem sonha em morar na Zona Sul, agora enfrenta preços dignos de bairros como Botafogo e Laranjeiras — e nem os moradores mais antigos tem escapado desse impacto.
Nos últimos dois anos, o custo da moradia na Glória subiu cerca de 40%. Restaurantes, mercados e até a tradicional feira livre ficaram mais caros. A feira, aliás, pode ser uma das responsáveis por esse encarecimento. Aos domingos, a Avenida Augusto Severo é tomada por uma multidão em busca de frutas, pastéis e especiarias na mais famosa — e uma das mais antigas — do Rio. Ninguém sabe ao certo quando ela começou, mas a reunião de feirantes por ali acontece desde o século ado. Hoje, as barracas vão além da gastronomia, oferecendo desde vestuário até decoração, tudo com um toque “gourmet” (o que pode justificar os preços nada convidativos).
Essa popularidade não anda agradando em nada os moradores mais antigos do bairro “hypado”. Segundo a Folha de S.Paulo, a principal reclamação, além dos preços, é a alta movimentação das ruas internas. Eles afirmam que fazer uma feira de forma tranquila aos finais de semana virou quase que uma missão impossível. “Os preços subiram com certeza. Isso em relação às frutas, legumes, vegetais, as coisas que realmente vendiam antigamente na feira da Glória, já antigamente era apenas uma feira livre” disse uma moradora ao jornal. “Notei que subiu, sim, os preços quando a feira começou a ficar mais famosa. Era tipo R$ 7, ou para R$ 9, R$ 10, e hoje acho que está R$ 15.”
“Hoje em dia é um inferno para você andar. Você vai ao Vila Rica, um restaurante, ou ao Chimeninho, ou ao Braseirinho e você não consegue mesa no domingo. Não é só na feira, o bairro inteiro fica cheio”, relatou outra moradora da região.
Glória aos investidores!
A virada de chave não teve uma data específica, mas pode ter começado há cerca de três anos, com o início do projeto “Dias de Glória”, em 2022, que revitalizou ruas, praças e áreas públicas importantes, como a Praça Paris e a Rua do Russel. No mesmo ano, também foram anunciados os investimentos do fundo Opportunity no antigo Hotel Glória, abandonado há mais de uma década. O novo empreendimento residencial de alto padrão teve suas primeiras unidades ultraando a casa dos R$ 2 milhões. O metro quadrado chegou a R$ 16.200 — 80% acima da média local. Logo em seguida, as antigas dependências da Rádio Globo, também na Rua do Russel e vizinhas ao antigo prédio da Rede Manchete, foram adquiridas por uma construtora que lançou um residencial de altíssimo padrão e recém entregue. Essa hiperinflação no custo de moradia segue como o campeão de reclamações na região.
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Mesmo após sua reclassificação istrativa da Zona Sul para a Região Central, por decreto municipal em 2023, o bairro manteve os valores elevados. Em 2024, a revista Time Out o classificou como o mais cool e descolado do mundo, e recentemente, a região entrou no radar da mídia televisiva. Equipes da TV Globo seguem usando a Glória como cenário de um dos principais núcleos de Vale Tudo. Um casarão colonial do alto do Outeiro da Gloria foi alugado pela primeira vez pela emissora como locação de uma novela.
A Prainha da Glória, que agora foi incluída na lista de monitoramento da balneabilidade do Inea, também pode ter ajudado a inflar esses números. A pequena faixa de areia, entre a Praia do Flamengo e a Marina, virou point, principalmente, após animadores resultados de despoluição desse ponto da Baía de Guanabara.
