Com impacto nacional, o fechamento das agências bancárias também chegou com força ao Rio, que viu o encerramento em massa se espalhar por quase todos os bairros — sobretudo neste ano. O maior impactado, sem dúvidas, foi o Centro do Rio, que reunia a maior quantidade de agências do município, principalmente por conta das empresas e escritórios que o bairro sempre abrigou. O movimento vai na contramão da reativação comercial e econômica da Região Central e já vem sendo discutida pelas lideranças da área.
Um levantamento realizado pelo Sindicato dos Bancários do Rio a pedido do jornal O Globo mostra que, de 2021 a abril deste ano, 163 agências e postos de atendimento bancário encerraram as atividades no Centro, o que representa 55% do total existente no período. Restam apenas 131 unidades. A tendência nacional de migração para os canais digitais ajuda a explicar o fenômeno. Desde 2014, Itaú, Bradesco e Santander já fecharam mais de 5 mil agências no país, sendo 856 só em 2024. No Centro do Rio, a queda tem todo um peso simbólico e prático. Historicamente é um dos bairros com maior densidade bancária do Brasil e chegou a ter agências praticamente coladas umas às outras nas décadas de 1970 e 1980. O processo de esvaziamento começou na década de 90, principalmente a partir da privatização do Banerj. Hoje, sobra espaço – e falta destino.
Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 7 em cada 10 transações no Brasil são feitas pelo celular, e que as instituições estão apenas “adequando sua estrutura à nova realidade”. O problema é que essa “adequação” tem custo social alto: entre mil e 1,2 mil empregos bancários foram perdidos no Centro desde 2021, segundo o sindicato. Isso sem contar funções indiretas que dependiam do fluxo dessas agências.
Lojas grandes, custos maiores ainda
Cláudio André Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis, maior corretora da região, vê o quadro com preocupação. Ele aponta que a vacância desses imóveis se arrasta por anos, com pelo menos 95 lojas que já abrigaram bancos ainda fechadas. Muitas ocupam áreas enormes, de 266m² a 2.460m², e estão presas a um problema comum: custos altíssimos de IPTU e condomínio. Há casos em que o imóvel é vendido por R$ 4 milhões, mas a prefeitura o avalia em R$ 15 milhões, o que torna a conta inviável para usos fora do setor bancário.
“O IPTU precisa ser revisto com urgência. A lógica da planta de valores do imposto está desconectada da realidade do mercado”, diz Castro. Ele defende também a fragmentação dessas grandes lojas para reduzir o custo do aluguel. “Para locação é mais simples dividir. Já na venda, exige mais aprovações.”
Um exemplo recente de reocupação vem da Avenida Rio Branco. Um imóvel de 1.500m² que abrigou o BEMGE e depois o Itaú foi comprado no final do ano ado pelo Sindicato dos Petroleiros, após dois anos no mercado. A loja, com três andares, fica em frente a uma estação do VLT e estava desocupada desde a pandemia. Movimento parecido com a ocupação da antiga agência da Caixa Econômica Federal do Edifício Barrosão, na Carioca. A imensa loja do térreo, com painéis artísticos tombados, foi escolhida para a abertura da primeira filial carioca de uma marca paulista de departamentos.